sábado, 19 de fevereiro de 2011

Senhor da Mente - Consciência de Si

"Para a consciência o limite é o céu, mas o inconsciente,
que se comunica com o Universo, sabe que na natureza
nada se cria e nada se perde, tudo se transforma.
Portanto não há limites".
(Lei Lavoisier)



O objetivo deste trabalho é ensinar ao espírito encarnado a aprender a dominar a sua “mente”. Mas, para que isto precisa ser feito? Para que cada um se transforme em “Senhor da Mente”, mestre da sua própria mente.

Assumir o controle sobre a mente é necessário, pois hoje os seres humanizados são “escravos” dela, ou seja, são comandados por ela. Tudo o que a mente “diz” que é verdadeiro, o ser humanizado acredita; só o que ela diz que é “certo” é encarado desta forma; apenas o que ela diz que existe passa a ser real. A mente, portanto, é “senhora” do ser humanizado e “comanda” as realidades com as quais ele vive.

No entanto, existe uma Realidade acima da percepção da mente que compõe o que é chamado de “mundo espiritual”, Universo ou “Todo Universal”. Neste elemento, o ser universal é algo completamente diferente daquilo que hoje, comandado pela mente, imagina ser e viver uma realidade completamente diferente daquilo que hoje percebe.

Portanto, posso dizer que todo ser humanizado é um escravo da sua mente e precisa se libertar dela para poder ser ele mesmo, para reassumir a sua Real personalidade: a espiritual.

Reforma íntima é algo que não pode ser perfeitamente compreendida pelos seres humanizados. Escravizados como estão aos padrões ditados pela mente, os espíritos não conseguem ter compreensão perfeita da Realidade do Universo. Por isso, apenas os espíritos desencarnados ou libertos da sua mente humana podem orientá-los perfeitamente.

Todo espírito liberto da escravidão à mente humana sabe que viver sob este domínio não leva o ser universal encarnado a aproximar-se de Deus. A mente (que também chamaremos de ego) guia o ser humanizado sempre para viver a ilusão, ou maya como Krishna classifica a realidade daqueles que são guiados pelo ego, da materialidade como realidade. Este conhecimento é que nos leva a seguir realmente os ensinamentos do mestre Sri Krishna.

Portanto, utilizaremos o Bhagavata Puranas como base para os estudos deste livro porque sabemos, como espíritos libertos da humanização, que a escravidão à mente impede o ser humanizado de realizar a sua reforma íntima, por melhor que sejam as suas intenções.

Só que antes de começar o estudo do Bhagavata Puranas alguns aspectos daquilo que será estudado precisam ser compreendidos em profundidade. Por isto, farei nesta introdução uma pequena análise daquilo que será objeto de estudo neste livro.

Começo com a seguinte pergunta: O que é mente?

Participante: É uma parte do nosso cérebro que comanda os raciocínios.

Esta é uma visão material da “mente” e não a Realidade. Para descobrirmos que isto que acabei de afirmar é Real, preciso continuar perguntando sobre os elementos da sua resposta.

O que é um cérebro? Ele é feito de carne, de matéria carnal?

Participante: Sim.

E, carne pode pensar? Será que a matéria carnal possui a propriedade inteligência que a levaria a raciocinar?

Se a sua resposta for sim, ou seja, se você acreditar nisso, com certeza também terá que crer que seus braços e pernas podem raciocinar, pois eles também são feitos da mesma matéria que o cérebro: carne.

Mas, com certeza, você não acredita que os seus braços e pernas raciocinam, pois sabe que a “matéria não é inteligente”. Por isso lhe digo que, apesar de me responder assim, não pode crer realmente que a mente seja parte do cérebro, pois seria ilógico.

Eu diria que a mente é aquilo que a psicologia chama de “psique”, que é “algo” ainda não perfeitamente compreendido pela ciência. Apesar deste desconhecimento sobre a psique, os cientistas já sabem que ela não é formada por matérias perceptíveis aos seres humanizados (imaterial) e que não faz parte do corpo físico como os membros, mas que, mesmo assim, está no corpo. Isto é a mente segundo a ciência.

No entanto, para este trabalho vamos além do conhecimento científico. Por isto, definirei a mente como um conjunto de verdades que determinam uma personalidade ou identidade. A sua “senhora”, portanto, é um conjunto de verdades que cria realidades que determinam a sua identidade: você.

Uma outra informação importante no tocante ao conhecimento da sua “senhora”: a compreensão de que não existem duas mentes iguais, ou seja, dois seres humanizados que crêem na mesma verdade. Podem até existir egos que possuam a mesma definição das coisas do mundo, mas eles jamais “gostarão” ou “desgostarão” (sentimentos que fazem parte da verdade) com a mesma intensidade.

É por isto que no mundo material se afirma que não existem duas personalidades iguais. Saiba que isto ocorre porque as pessoas são apenas seres universais escravizados às suas mentes e, como não existem dois conjuntos de verdades que tenham a mesma intensidade nas suas opiniões, elas são necessariamente diferentes umas das outras.

Por isto podemos afirmar que mente nada tem a ver com materialidade, com matérias, mas trata-se de um conjunto de crenças que compõem as realidades que o ser humanizado vivencia durante a sua subjugação a ela.

Exemplifiquemos. Que cor é a sua blusa?

Participante: Vermelho.

Por que você reconheceu o vermelho nesta cor? Porque esta definição está na sua mente. Veja bem que não estou falando do rótulo (o nome “vermelho” da cor), mas de uma pigmentação que, depois de reconhecida pela mente, é definida através de um vocábulo.

A mente, instigada pela minha pergunta, agiu reconhecendo primeiramente a “blusa” e depois a pigmentação para lhe dizer que resposta deve me dar. Você, que não reconhece a separação entre o seu ego e você mesmo (o espírito), pois está escravizada a ele a tal ponto de reconhecer-se como a sua própria mente, me responde então achando que está “certa”, que sabe a resposta.

Mas, eu lhe pergunto: quem disse que esta pigmentação existe? Para respondermos a esta pergunta, no entanto, teremos que mudar sua resposta. Se ficarmos no “vermelho” a lógica do que estou falando não será bem entendida.

Para não irmos muito longe do que você pode entender entrando pelo campo do imaginário nesta mudança, vamos alterar a cor da sua blusa. Digamos que o seu ego tenha reconhecido uma determinada pigmentação que classificou de “marrom” ao invés de “vermelha” à minha pergunta. Será que existe o marrom?

Claro que não. Você aprendeu na escola que existem apenas sete cores primárias e que o marrom não está entre elas. Portanto, o marrom não existe. Por este motivo a resposta “certa”, neste caso deveria ser: a cor da minha blusa provém da união de determinadas cores.

Mas, por que, então, a mente não respondeu de forma “certa” e sim com o vocábulo “marrom”? Porque ela não se baseia na Realidade, mas apenas no conjunto de verdades individuais ou crenças individualizadas que existem nos “arquivos” ou memória da mente.

A mente não raciocina, mas apenas compara informações recebidas em um determinado momento com outras que existem nos seus arquivos (memória). A ação dela é, depois de recebida as informações do momento através dos órgãos de percepção do corpo físico, analisá-los de acordo com as informações arquivadas na memória para construir uma realidade, pouco se importando se aquilo é Real ou não.

Isto é mente e esta é a sua ação a cada momento. Ela é um conjunto de informações que são utilizados para criar verdades e realidades e não uma parte material que raciocina, escolhe entre o “certo” e o “errado”.

Este conhecimento é fundamental para aquele que pretende alcançar a elevação espiritual, pois como todos os mestres ensinaram, a verdade humana, que é utilizada pela mente como parâmetro para estabelecer a realidade, é ilusória e passageira.

Crer nelas como eterna e imutável é algo que os seres humanizados precisam eliminar de suas existências se quiserem alterar a sua realidade. Daí a importância de se tornar “Senhor da Mente”, ao invés de continuar escravizado a ela.

Agora, que verdades são essas que existem na mente? De onde surgem os elementos comparativos que a mente utiliza para criar realidades?

Participante: Tudo que aprendemos nesta vida.
E mais: tudo o que trouxemos anteriormente ao nascimento.

Veja bem. Desde o início da existência a criancinha já tem algumas verdades particulares. Elas podem ser ampliadas com a evolução da idade e outras novas podem ser acrescidas, mas algumas crenças individuais existem desde o nascimento e criam aquilo que é chamado de “personalidade” de um ser humanizado.

Então, a mente não é formada apenas durante a encarnação, mas é criada antes dela e alterada e acrescida durante a vivência como ser humanizado.

Outro aspecto importante de se saber antes de começarmos realmente nosso estudo: não existe apenas um tipo de verdade na mente.

Ela é composta por dois tipos distintos de verdades: as “genéricas” e as “individuais”. É preciso que assim seja para que exista a vida em coletividade. Com o entendimento do que chamamos de “verdade genérica” esta afirmação será compreendida.

Por favor, olhe para onde estou apontando e me diga o que é aquilo?
Participante: Uma parede.

Outra pessoa, por favor, me responda o que é aquilo que estou apontando?
Participante: Também vejo uma parede.

Ou seja, classificar aquela forma como “parede” é uma verdade comum a todos os seres humanizados. Todos que olharem para ali dirão que aquilo é uma parede.

Mas, como cada um chegou à conclusão de aquilo é uma parede? Já vimos esta resposta: porque existe um referencial (verdade) na mente de cada um determinando que o que foi percebido é uma parede.

Portanto, existe um grupo de verdades nas mentes humanas que é igual para todos. Isto é que chamamos de “verdade genérica”: aquela que é igual para todos.

O reconhecimento das formas e objetos do mundo carnal se dá através das verdades genéricas arquivadas no ego ao qual o espírito que encarnará no planeta Terra se ligará. Todos os egos dos habitantes do planeta Terra possuem a mesma verdade genérica sobre as formas e objetos para que possa haver a vida coletiva.

Imagine se isto não fosse real. Um olharia para um determinado objeto e diria uma coisa e outro “veria” algo diferente. Lembro, como fiz quando falei do reconhecimento da pigmentação rotulada como vermelha, que não estou falando apenas de nomes, mas de reconhecimento de objetos. Imagina o caos que seria se as verdades sobre a “janela” fossem diferentes?

Por isto os egos possuem verdades genéricas: para permitir a construção de uma realidade comum a todos. Sem isto não poderia haver o mundo material.

Agora, o trabalho da mente não para por aí. No seu conjunto de verdades estão embutidos mais elementos do que apenas as verdades genéricas que afirmam existir ali uma parede.

A partir da observação da parede, cada um começará a emitir opiniões pessoais sobre ela: se a pintura é “feia ou bonita”, se ela está “bem ou mal” construída, se a existência dela é “boa ou má”. Estes elementos, que fazem parte da verdade sobre esta determinada parede, são as “verdades individuais” que cada mente utiliza e insufla o ser humanizado subjugado por ela a acreditar.

Repare que neste aspecto, diferente da “verdade genérica”, não existe universalidade nem eternidade. Enquanto que na primeira fase (reconhecimento da forma e/ou objeto) todos vêem a mesma coisa, aqui já é bem diferente.

Alguns a acharão “bonita” e “boa”, mas outros considerarão que a parede é “má” e “feia”. Ou seja, cada um “achará”, guiado pela sua mente, diferentemente do outro. Mesmo que haja concordância em gênero (“bonita” e “boa”), isto não acontecerá em grau. Além disso, o que hoje parece “bonito” amanhã poderá ser “feio”, dependendo da crença do momento.

É por estes dois motivos (a sua crença ser individual e transitória) que afirmo que este componente da realidade ditada pela mente é uma verdade particular, individual.

Participante: O problema é quando um quer que o outro ache também “ótimo” aquilo que ele acha, não?

Sim. Mas, mais que esta compreensão, é preciso viver-se com a realidade de que, mesmo que duas pessoas classifiquem como “ótimo” algo, esta classificação terá um grau diferente entre estes seres. O que cada um achar desta parede, mesmo que seja traduzido na mesma palavra, jamais conterá em essência o mesmo grau daquilo que o outro “acha”.

Este é o primeiro aspecto que precisava abordar antes de começarmos nosso estudo: saber o que é mente.

Mente é
, portanto, um conjunto de verdades genéricas que cria o mundo carnal para a existência do ser humanizado e um conjunto de verdades individuais que dá as características individuais a estas coisas e, com isso, cria uma identidade, uma personalidade.

Mas, ainda precisamos continuar compreendendo outros aspectos antes de iniciarmos a análise dos textos de Sri Krishna.

Falei inicialmente que este estudo objetiva “controlar a mente”. Agora que já conhecemos o que é mente, vamos começar a falar sobre o controle em si.

Será possível se controlar as verdades genéricas? Será possível se libertar das verdades genéricas que a mente cria? Será que um ser humanizado pode ter uma compreensão diferente do que é uma parede de outro? Não, pois as verdades genéricas são iguais para todos e necessárias para a criação da vida na ilusão material.

Enquanto você, o espírito, estiver ligado à mente olhará para aquele objeto e acreditará que ele é uma parede. Não tem jeito, não há como alterar a compreensão sobre aquele objeto porque ela é universal e eterna. Portanto, posso afirmar que neste aspecto não há como controlar a mente.

Mas, e as verdades individuais, há como controlá-las? Claro que sim. Basta apenas conferirmos o que já acontece na vida de um ser humanizado para entender que isto é possível.

O ser humanizado vive mudando de opinião constantemente sobre as coisas do mundo. Em um momento “gosta” de algo e diz que aquilo é “bom” para ele, mas em outros afirma que a mesma coisa “não presta” e que, portanto, não “gosta” dela. Ou seja, mesmo sem exercer o controle da mente, o ser humanizado não vive eternamente com a mesma verdade individual sobre as coisas do mundo.

A partir desta simples constatação de algo que é corriqueiro numa existência humanizada, podemos crer, então, que as verdades individuais presentes na mente de cada um podem ser controladas. Por isso afirmo: é neste aspecto que se executa o controle da mente para se alcançar a elevação espiritual.

É por isso que Krishna afirma no Bhagavad Gita: o verdadeiro sábio transita entre as coisas do mundo (vive com as mesmas verdades genéricas que o ser subjugado pela mente), mas não está apegado a elas.

O apego que o mestre diz que o homem sábio libertou-se é justamente a subjugação à verdade individual imposta pela mente, o acreditar que aquilo que a mente diz é Real.

Acreditar nas verdades genéricas existentes na mente não cria problemas à elevação espiritual. Para chegar perto de Deus você não precisa deixar de “ver” uma parede ali. Agora, acreditar na sua verdade individual como Realidade e querer que os outros se submetam ao que você acha, acaba com o amor e o serviço ao próximo, a doação e a caridade, que Cristo ensinou que é necessária para se aproximar de Deus.

Portanto, é isso que precisa ser controlado. Para melhor compreensão eu diria assim: é das qualidades positivas ou negativas que a mente coloca nas coisas que você precisa se libertar.

Este é o resultado do nosso trabalho. Ser “senhor da mente” é aprender a controlar a mente para libertar-se das verdades individuais que ela declara a respeito das coisas do mundo.

Veja bem o que estou dizendo: libertar-se da influência das verdades individuais. Não estou falando em mudá-las, ou seja, passar achar “certo” o que antes era “errado”. Quem pratica isso imaginando que está controlando a mente nada consegue no sentido da elevação espiritual. E o pior: só vê isso depois que não há mais tempo para mudar-se, pois já desencarnou.

Aquele que altera o sentido das verdades individuais acreditando que com isso está libertando-se da ação da mente continua subjugado a ela, pois se escravizou a uma nova crença individualizada. Por isso afirmo que o controle da mente se dá com o desapego, com o fim da submissão e não com a alteração da verdade individual.

Promover a elevação espiritual dentro do caminho ensinado por Sri Krishna é libertar-se da ação da mente, seja o que for que ela lhe diga: é “bom ou mal”, “certo ou errado”. Não se trata de “gostar” do que não se “gostava”, mas libertar-se de qualquer opinião individual sobre as verdades genéricas que a mente cria.

Para isso você precisa ter o seguinte diálogo com o seu ego.

“Você está me dizendo que aquilo ‘não presta’

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